16.1.09

... a celebrar os momentos...

Realidades e mudanças, a minha sensação....

Desta vez as marionetas são diferentes e cabe a quem ler decidir o melhor cenário.

Não tenho o hábito de ser tão clara, mas é impossível fazer de conta que está tudo bem e continuar a contar histórias.

No macapi não existem ligações políticas, existem preocupações ambientais, pedagógicas, culturais, humanas.

O nosso trabalho e esforço é reconhecido nos sorrisos espontâneos, acredito que ao promover uma oficina onde se utiliza a reutilização de materiais para criar, onde na construção de um cenário há uma preocupação em reutilizar, não desperdiçar, estamos já a marcar uma posição e permitir que outros o façam.

O macapi é um movimento informal, o trabalho de produção - onde redigimos os projectos, fazemos os contactos, esboços... trabalho de papel, é feito em Almada, num escritório que criei em casa. A construção é feita no Seixal - Corroios, na Casa das Artes do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho.

Situações de ambos os concelhos, sentimos na pele, e hoje vivi uma situação especial que tenho de partilhar porque sinceramente, estou cansada de tanta pintura borrada.


Sobre a Zona Pedonal em Almada



Uma tarde comum de uma sexta - feira, fim de uma semana para alguns, um dia igual a todos os outros para outros.

Almada tem uma zona pedonal! O curioso nesta zona pedonal é termos de nos desviar dos carros, de um metro ou de um autocarro.

Há muitos problemas, acho que não há um sítio que não os tenha, salvo lugares remotos, perdidos nos interiores desabitados deste mundo onde se encontram seres que lutam pela diferença.

Sim, é global, mas é em Almada que estou, no entanto não é só para os Almadenses de gema ou de residência que dirijo as minhas palavras, é para todos os que disponham de interesse em ler e partilhar a consciência da mudança.

É triste não se preservar o local onde vivemos, é triste ver um povo não educar para harmonia e sim para a fachada da cidadania, é triste ver o desinteresse pelo ar que se respira, pelo chão que se pisa.

O sistema é automático, á frente dos governos estão personagens de um jogo corrupto de interesses pessoais.

Mas nós, povo, parecemos não nos importarmos com isso, preocupamo-nos sim com a nossa casa, com as nossas contas, com os nossos desejos consumistas... Não nos interessa de onde a comida vem, desde que se possa comprar. E isto é a oração de cada dia. Tudo se resolve com o poder de compra.

Mas é uma fachada, e muitos sabem-no, engolem o sapo a cada amanhecer.

Queremos continuar? É isto que queremos? Queremos um sistema que não nos respeita? Queremos ser indivíduos? Ou seres humanos?

As perguntas são muitas, todas têm a mesma resposta : NÂO!!!!

Eu não quero que os meus filhos, hoje crianças, sejam amanha indivíduos individualistas. Quero que sejam seres humanos com valores, com respeito, com um espaço saudável e harmonioso para darem continuidade á maravilha da vida e de estar vivo!

Não quero que o ar que respirem esteja contaminado, que não tenham água - que já não têm, a não ser que nós a compremos!!! Pagamos a água que bebemos, pagamos o ar que respiramos. Mas pagamos a quem??????? Porquê???????? Este amanha é hoje!!!!!! O Planeta é de todos!!!! É de tudo quanto tenha vida e não dinheiro!!!!

É uma longa batalha, onde cada ser é chamado a agir, a mudar. Por si, pelo seu bem estar, pelo bem estar comum. Se cada um de nós mudar por si onde está, com o que tem, a mudança colectiva surge.

Há um assunto comum nas mesas de café, nas viagens de transporte, na rua, nos encontros com amigos, um assunto que nos toca a todos, resume-se a : isto vai de mal a pior. Até aí já chegámos. E agora? Vamos continuar de braços cruzados?

É urgente falar, é urgente partilhar o sufoco destes tempos, sair á rua e gritar se preciso for. É preciso mudar hábitos! Mudar pensamentos, prioridades, filosofias, ideias.



Em Almada como em quase todas as cidades, temos situações curiosas, o vislumbre da Avenida que esconde o podre que não interessa mostrar, mas os Almadenses passam por lá e sabem-no; o estado de Almada Velha, Cacilhas, edifícios a ruir, carros estacionados nos passeios sem acesso a carrinhos de criança e cadeiras de roda, lixo, ratos mortos, terrenos destratados...

Nem as pessoas podem esperar da autarquia, nem a autarquia pode fazer sem o respeito das pessoas.

As pessoas queixam-se á autarquia, a autarquia se chegar a ouvir mexe-se a passo de caracol e resolve como nesta situação, cria uma zona pedonal desenhada para peões, mas sem condições para a coexistência entre peões, carros, metro, autocarros e outros transportes que circulam.

Hoje, numa tarde comum da Cidade de Almada onde a dualidade do mudar paira por si, moradores do centro da cidade decidiram usufruir do seu direito de ser peão e circular na zona pedonal promovendo uma iniciativa de ‘celebrar a zona pedonal’.

Entende-se por zona pedonal um local onde se pode caminhar, parar para conversar, deixar as crianças á vontade, mas... a dualidade de mudar e manter velhos padrões cria destas situações:

Citando partes dos textos distribuídos na rua e disponíveis nas informações do GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental.

‘Primeiro que tudo uma questão simples: de quantos carros a circular precisa uma zona Pedonal? Resposta : Nenhum.

A zona pedonal é pequena e mesmo assim tem uma estação de metro, outra de autocarro e vários parques de estacionamento na periferia.

Qual a necessidade de violar os direitos dos peões na zona pedonal?
Nós, os peões, não podemos andar em paz e segurança uma vez que a maioria dos condutores, além de circular na nossa zona pedonal, ainda ultrapassa o limite de velocidade de 10km/h. Muitos de nós somos idosos, crianças e pessoas com dificuldades motoras. Se temos de fugir dos carros podemos acabar á frente de um metro ou autocarro.

Pensem no bem-comum de todos e deixem o carro na garagem, ou, melhor ainda, na vitrine do stand. Respeitem os peões, utentes deste espaço que usamos para viver e para fazer compras, contribuindo assim para o desenvolvimento do comércio local.

Façam a diferença e contribuam para um ambiente saudável e com boa qualidade de vida.’

Sendo eu moradora da cidade e sentindo na pele estas dificuldades decidi juntar-me á iniciativa.

É bom saber que há pessoas a agir pela diferença, a marcar posição face a um sistema de organização mecânico. Mas é triste ver que ainda há muita mudança e muita luta por uma consciência consciente. Por um cuidar do que se tem.

Em plena Praça do MFA, centro de Almada, um grupo de jovens circulava pela zona pedonal, os idosos que por hábito se juntam no Café Central olhavam e perguntavam o que se estava a passar, alguns diziam ‘ainda bem que alguém faz alguma coisa’.

Os meus dois filhos acompanharam-me, expliquei-lhes que íamos marcar posição e defender o direito de peões na zona pedonal, uma zona que nos permite andar mais descontraídos, mas que neste caso, temos de andar mais cautelosos.

A Joana, minha filha de 4 anos, erguia orgulhosa uma placa que dizia : Finalmente posso morrer atropelado na zona pedonal! - Comparados com esta afirmação ilustrada pela doce Joana cheguei a ouvir comentários do género - Vão trabalhar! Obrigam as crianças a andar aqui!! A aproveitarem-se das crianças!

Aquilo que se esperava ter como um momento de celebração e luta positiva pela mudança assumida, devido a estas mentalidades e a um batalhão de Polícias que se juntou para impor a força da autoridade, foi abalado, mas não perdeu um só dos valores em que acreditava e defendia.

Claro, quem quer mudar não está preocupado com a roupa que veste e sim com a água que bebe. A aparência fala alto, e o grau académico não lhe fica atrás.

Fui registando com a máquina em fotografias e video os momentos das primeiras voltas á Rotunda dos ‘Perseguidos do MFA’, estava descontraída, circulava na zona pedonal acompanhando a celebração, acompanhava os meus filhos que estavam contentes e conscientes do que estavam a fazer. Estávamos a desfrutar da zona pedonal como ainda não tinha-mos sentido quando, de repente, surge um Policia que me retira a máquina da mão e de cabeça baixa de forma a que a pala do seu boné não me deixa-se ver os seus olhos diz-me que não posso fazer registos de imagem, o código penal não permite que eu recolha imagens, então apagou tudo quanto tinha na máquina e disse ainda que se me volta-se a ver tirar fotografias que confiscava a máquina. Perguntei-lhe o seu nome e não me respondeu.

Curioso, os Polícias nunca trazem uma identificação de quem são, como se chamam. Talvez para não os identificarmos quando não actuam correctamente.

Houve várias situações, pessoas que apoiavam e partilhavam a luta, que pararam, leram os textos, que simplesmente valorizaram a zona pedonal.

É incrível como mesmo um pequeno acto tem tanto impacto. Espero que a cada segundo de tempo todos comecem a agir. Já não se trata de despertar, porque estamos simplesmente adormecidos ao de leve, é preciso sim acordar agora, levantar os braços e agir.

Onde quer que estejamos, basta dar o primeiro passo, passo a passo faz-se o caminho.